Ao observar como os animais reagem às circunstâncias com que se deparam em sua vida, aprendemos muito sobre a postura de seguir o fluxo da vida sem identificação com "padrões pensamento/emoção", típicos do surgimento da imagem que pretendemos passar ao grupo social em que estamos inseridos, ou seja, sem o apego a expectativas previamente criadas, ao longo do tempo desde a educação na infância. Para esta experiência, observo o comportamento de animais de estimação, e particularmente, focarei aqui a fase que uma gata encontrada na rua vive atualmente. Pense hipoteticamente se você tivesse perdido o lar onde morava, em função de ter sido abandonada por sua família, e ainda, estivesse para dar à luz. Seria um sofrimento, se pensar nas expectativas que criou sobre: crescer, estabelecer-se, prosperar individualmente, constituir família, possuir bens e status social, estabelecer laços de afeto com sua família e as demais, etc, não é mesmo? E se já tinha esta situação social, imagine sua família lhe rejeitando e lhe abandonando, simplesmente porque não queria assumir os seus filhos, em função de não ter condições para criá-los... Seria um sofrimento esta circunstância para um ser humano, e é por isso que existem leis para ampararem as mulheres que infelizmente passam por isso, onde seus filhos deverão ser tutelados pelo estado. No entanto, um animal, não obstante o sofrimento que esta situação poderia lhe gerar, passa por ela buscando tudo o que está ao seu alcance de forma prática, seguindo o fluxo da vida através dos acontecimentos, sem esboçar nenhum tipo de preocupação ou sofrimento, mesmo com todo o risco envolvido. Porquê? Ao sentir que uma determinada gata necessitava de nossa ajuda para dar à luz seus filhotes, a recolhi e amparei, com o objetivo de encaminhar seus filhotes para adoção, e minimizar o seu "sofrimento" com o abandono, neste momento. Após sentir de nossa família, nos primeiros contatos, que teria atenção e apoio, ela escolheu o lugar onde queria dar à luz(não interferimos), próximo de nossa casa, num lugar escondido, o que nos permitiu recolher os seus filhotes no momento certo para averiguar seu estado de saúde, bem como, da mãe; Seu comportamento em nenhum momento expressa o sofrimento de alguém que tenha sido abandonada nestas condições, mas ela aproveita cada momento para viver plenamente esta fase de sua vida e executa o trabalho de mãe com esplendor, mostrando-se grata. Em nenhum momento a sentimos triste. Porque? Minha observação me leva a pensar que isto ocorre porque ela apenas segue a vida de acordo como os acontecimentos vão se desenrolando, resolvendo de forma prática suas prioridades, de acordo com o seu instinto. Não há preocupação, pensamentos desnecessários, identificação com pensamentos ou emoções de sofrimento, expectativas, frustrações, apegos...ela apenas segue. Não há separação do tempo cotidiano, da eternidade, afinal, ela segue o fluxo da natureza, despertando ao nascimento do Sol, e portanto, realizando os seus afazeres durante o dia, e adormecendo à noite. Em breve, seus filhotes estarão desmamando e ela já vem se distanciando deles para entrega-los à sua própria vida, de forma que aprendam a ser independentes. A vida portanto, se torna prazerosa e simples, quando se segue o fluxo dos acontecimentos. Concordo que um ser humano possui maior complexidade mental, no entanto, em experiências como esta, fica claro que a nossa mente é poderosa, moldando e nos auxiliando sobremaneira na vida, mas por outro lado, com a consciência do que pode ser transcendido, para evitar identificação e apego demasiado, temos a chance de focar nossa energia no que realmente produz a alegria de viver.
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