quinta-feira, 13 de março de 2014

O mundo, sua energia dinâmica, e a missão do Ser de desidentificar-se ao longo da vida

Em qualquer momento que nos observamos há pensamento ocorrendo. Existe uma compulsão para pensar o tempo todo. Mas não é necessário estarmos o tempo todo pensando, podemos repousar enquanto somos, conectados com o momento presente. Então uma brincadeira gostosa é abandonar o pensamento por algum tempo, conectando-se com a fonte, o agora, mas sem pensar que está "deixando de pensar", apenas não dando atenção aos pensamentos. Mas porque nos viciamos em pensar ? Isto é interessante porque nos remete à construção deste personagem que chamamos de "ego" desde a infância. Salvo quando somos educados por pessoas espiritualizadas, raramente ouvimos na infância que haverá a construção de uma identidade e que, na verdade, não somos este personagem que brota além da consciência de Ser. Sendo assim, nos acostumamos a perceber o eu interior através do conteúdo e da atividade de nossas mentes. A impressão que dá quando nos desenvolvemos desde a infância é a de que deixaríamos de existir se parássemos de pensar. Daí decorre a construção de uma imagem mental de nós mesmos, baseada nos condicionamentos a nível pessoal e cultural. Isto implica numa atividade mental ininterrupta que visa manter-se através do pensamento, afinal é assim que conseguimos delimitar o que imaginamos ser nosso EU, num primeiro momento. Então chamamos de ego este falso eu interior, criado por uma identificação inconsciente com a mente, mas que quando percebido posteriormente pode ser observado, já que com o decorrer da vida, já estaremos vivendo muitos efeitos manifestos gerados em função da ação deste personagem, não do que somos verdadeiramente. Consciência e pensamento não são a mesma coisa, o pensamento é um pequeno aspecto da consciência e não consegue existir sem a consciência, mas a consciência não necessita do pensamento para existir. Então uma coisa é pensar para resolver assuntos práticos do dia a dia e seguir, outra é ficar viciado e escravo do pensamento, em função deste personagem construído inconscientemente pelo meio. Ao observar o personagem e quais são as ações ligadas e oriundas dele na vida, percebemos quem o está observando e nos descobrimos do véu da ilusão. Portanto, em outras palavras, percebemos que é através do controle (cognitivo/emocional) daquilo com o que nos apegamos, que nos sentimos como indivíduos. A identificação está ligada ao desejo, à ânsia da busca por uma ilusória felicidade no mundo. Ilusória porque provém da ilusão da felicidade forjada pelo meio ou cultura em que vivemos, projetada em nós através do condicionamento social. Só quando observarmos e sentirmos o desejo, e através da consciência pudermos discernir se cedemos ou não ao ímpeto de sua energia dinâmica, assumindo as responsabilidades e consequências de nossas escolhas e ações é que estaremos nos desvencilhando da força do mundo sobre nós. "Nos condicionamos a ficar vulneráveis ás circunstâncias aparentes e depender delas para repor a estabilidade de nossa energia, ou seja, tentamos repor a energia em função do mundo externo (Samsara), quando na verdade, antes da leitura das aparências e de sua co-emergência, através de nossa lente, já somos a energia estável, independente da circunstância que se apresenta." (Lama Padma Samten)