quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Mas porque o Sol?

Se a Bretanha, hoje na França, e a Gália, povos que originaram os Celtas, cultuou o Sol, através do druidismo de 300 a.C. até cerca de 50 d.C. culto que sobreviveu ainda por um bom tempo em paralelo ao Cristianismo primitivo, vindo a sucumbir com a ascensão do império romano; Mileto, colônia Jônia do tempo de ascensão dos gregos, importante região comercial fundada em 1070 a.C., hoje uma região da Turquia, influenciada naquela época pelo culto inerente das tradições da região, sobretudo do Egito, com quem mantinha comércio por ser uma próspera produtora de lã, já cultuava o Sol, dentre outros cultos; Mas foi no século 7, por volta do ano 600 a.C. quando nascia a primeira escola filosófica, que resolveu racionalizar o "porque" desta crença, que seguiria ainda com o povo Persa, por quem fora conquistada por volta de 494 a.C. com Dario I. A ideia de haver uma substância primordial no universo que explicasse tudo, inclusive a si mesmo, sempre atraiu o homem, mas com o desenvolvimento das ciências e sobretudo da matemática, que procurava criar um conjunto de medidas para comparação e grandezas para o corpo do universo, o cosmos pela física seria visto como algo incriado e eterno, existindo agora mas de forma sempre igual, com um conjunto de leis e efeitos, porém sendo infinito. Por outro lado, pela metafísica e teologia o cosmos não seria explicado apenas por este conjunto de comparações de grandezas expresso pela matemática e sim também como algo eterno mas ao mesmo tempo criador. Sua análise, portanto, deveria se basear também na constatação das leis universais como reflexo da causa original, repercutindo no tempo futuro da própria criação. Assim, homem e essência divina vivendo em "tempos" diferentes, haja vista a mutabilidade da vida humana que se desenrola indefinidamente com contornos de evolução no aprimoramento da perfeição física e que podem ser medidos pela matemática, em contra ponto à criação e recriação de diversos fenômenos aparentemente inexistentes ou não perceptíveis à vista humana comum, o que aparenta estagnação e imutabilidade na variável tempo do cosmos, representaria que a criação é o espelho do próprio criador, pressupondo a presença de uma inteligência universal como substância básica da vida e da forma, chamada pelos filósofos deístas de "Deus". Sendo assim, incriado e criador simultaneamente, o universo só poderia ser explicado como o poeta e o próprio poema ao mesmo tempo.


Nesse contexto, os filósofos da antiguidade, sobretudo, a partir da ascensão grega, passaram a se debruçar sobre a questão de explicar qual o princípio que sustenta o palco da vida e o Ser inerente ao homem; Qual seria o "substrato primordial", que alimenta a unidade fundamental que subjaz os seres , lei segundo a qual tudo é uno em essência na sua multiplicidade de formas, plural, sem, no entanto, haver descontinuidade singular entre o visível e o invisível ?! Se fosse possível compreender isso, seria possível compreender a essência de tudo e de todos,  assim, sem saber onde estaria esta "coisa" que deu origem a tudo, passaram a considerar que esta deveria estar, de certa forma, presente no mundo criado, iniciando-se assim a busca filosófica sobre "o que seria a origem primordial", encarnada nos quatro elementos básicos da natureza: Terra, Água, Fogo e Ar. Qual deles seria o elemento original? O estudo a cerca dos primeiros elementos naturais num nível fisiológico ocorreu no período pré Socrático, na escola Jônia, entre os séculos VI e V a.C. num sistema de boca / ouvido, mestre e discípulo, desenvolvendo-se inicialmente em Mileto. Tales, mais acadêmico, iria considerar inicialmente o elemento água, por sua observação sobre o que havia à sua volta. No entanto, posteriormente, foi Heráclito quem atribuiu ao fogo a origem de todas as coisas! Através do fogo cósmico ou primordial, "energia da vida", do qual o estado elemental é apenas a expressão mais densa e visível do elemento, explicava Heráclito, ocorre a oposição dos contrários pelo qual o ser é gerado e integrado novamente no seio do oceano eterno. Assim, seria como fogo que o espírito surgiria na terra como matéria e através dele reconduziria-se à espiritualidade, funcionando como agente universal responsável pela manifestação da vida. Em essência, se referia ao mesmo fogo, como Ágni ou Fogo sagrado e divino progenitor do Cosmos, como já afirmavam os Vedas, escrituras sagradas do Oriente, na qual se fundamenta a unidade na multiplicidade cósmica, dando razão e coerência à sua coexistência mútua. Portanto, afirmava que só percorrendo a via do fogo sublimador é que se poderia conseguir atingir a unidade primordial, o princípio primordial de tudo e de todas as coisas, por tratar-se de progredir na compreensão do que seja a intimidade da energia vital , manifestada como luz, calor e chama. Caminho que iria da consciência humana à consciência divina! Assim, a Ciência acadêmica, a partir de Tales, assume a água como geradora da vida física e a Tradição iniciática assume o Fogo como gerador da água pelo vento e a terra , gerando a umidade que se cristaliza como líquido, ou seja, como gerador da vida imanente e transcendente, o invisível "ignis vitae".

Em essência, portanto, vale destacar, o fogo considerado como elemento primordial seria o mesmo : Vayu, Suria, e Fohat encontrado nas escrituras Védicas, onde a maioria dos filósofos clássicos greco-latinos utilizaram para inspiração, desde Pitágoras á Platão. Mas considerando que todo efeito tem uma causa, o que seria a origem de todas as origens, o princípio de tudo? Considerando como tal , algo primordial, sem princípio nem fim, que transcenda o tempo, não sustentado por nada porque sustenta a si mesmo, sem causa por ser sua própria causa - "a causa per si"... A isto seria dado o nome de "substância primordial", o que se pode notar em várias tradições, que adotavam este princípio, com nomes diferentes: o absoluto, .. o tudo-nada... uma substância plena que abarca tudo!

Ora, os sistemas solares e toda a substância que os constitui, nada mais são do que a condensação ou materialização da substância primordial, que está na origem de todas as manifestações, sejam elas de caráter físico, emocional, mental ou espiritual, no entanto, nesse estado ela não é um Ser, ao contrário, é precisamente o não Ser, razão suficiente para o adepto desta concepção afastar-se conscientemente das concepções religiosas que a partir de um determinado momento passaram a conceber um "Deus pessoal", antropomórfico, que passaram a fazer do Criador a sua própria criação.

Desta forma, a sabedoria iniciática adotou que a substância primordial é o não Ser, que passando do estado passivo ou indiferenciado para o ativo manifestado, transforma-se no Ser, designado pelos orientais como: Tat . Enquanto imanifesta a substância é eterna, mas ao se tornar ativa, limita-se aos desígnios do corpo manifesto, respeitando o tempo cíclico da respectiva manifestação. O eterno Imanifesto apresenta-se no espaço sem limites, enquanto, manifesto apresenta-se no espaço com os respectivos limites da manifestação; Sendo que para ocorrer a primeira manifestação da substância primordial é preciso que ocorra a polarização, resultado da dualidade, ainda não compreendida plenamente. Apenas sabe-se que ocorre !!

Considerando portanto, o sistema solar, como a manifestação da substância primordial, ainda em estado de não-Ser, foi que surgiram os cultos ao Sol no seio de civilizações anteriores às dos Sumérios, desenvolvendo-se até tornarem-se ocultas com a ascensão do Império Romano.   

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Lembre-se

Se observarmos, na vida,
um impulso, uma intuição,
gira em torno de nos lembrar constantemente
para deixarmos de viver algo
que não representa a nossa essência;

Seja lá de qual ponto de vista
que escolhamos para observar!

Todos nós sem exceção,
por qualquer caminho
que nos conduza a essa compreensão,
já somos a essência,
mesmo que, identificados com os pensamentos
construídos pelo mundo,
ainda não percebamos,...