quarta-feira, 21 de março de 2012

O processo de retorno à inocência

Leo Buscaglia Ph.D e professor universitário, nos lembra que a frustração, o isolamento e a ansiedade, provocadas por necessidades emocionais não satisfeitas, podem, como uma privação física, produzir morte, ou um grau de morte na vida, como uma neurose ou uma psicose. E explica que isso se dá porque não fomos preparados desde a infância a investir parte de nosso tempo diário com atividades que envolvam a satisfação de necessidades emocionais e no processo de auxiliar os outros a satisfazerem suas necessidades, mas sim a exclusivamente pensar e agir em função da obtenção de renda para a subsistência. No entanto, há necessidades básicas que precisam ser atendidas para que um ser humano se desenvolva, até quando desperte para uma nova dimensão consciencial, como: ser visto, reconhecido, apreciado, escutado, acariciado, satisfeito sexualmente, com liberdade de escolher seu próprio caminho, crescer à sua maneira e cometer seus próprios erros, enfim, aprender. Aceitando a sí mesmo e aos outros seres humanos, que consequentemente o aceitarão. Assim, primeiro é desejável ser um "eu" tanto quanto um "nós", esforçando-se por crescer, sendo este indivíduo único que é, para num segundo passo, despertar para novos horizontes. O amor, enquanto sentimento, reconhece todas essas necessidades, e se qualquer uma não puder ser satisfeita, inviabilizará a plena realização do indivíduo, mantendo-o preso a conflitos inconscientes. O amor escuta, toca, acaricia, mesmo que não fisicamente, porém, o amor físico é necessário para a alegria, o crescimento e o desenvolvimento. O amor não é o sexo, embora uma gratificação sensual em graus variados seja sempre uma parte do amor. É impossível imaginar uma situação onde alguém ame profunda e sinceramente sem um desejo por alguma forma de gratificação sexual. O que ocorre é que através dos hábitos e das leis de nossa sociedade, ao longo do tempo fomos nos distanciando uns dos outros, ao longo do tempo, de forma que o amor e a pessoa amorosa tornaram-se sinônimo de "bobeira" e "pessoa sensível". A ponto de se afirmar que devemos nos relacionar, mas sem nos apaixonarmos, sem amarmos o outro verdadeiramente. Não há dúvida de que qualquer pessoa é real quando você a toca, quando sente as carnes dela nas suas, mesmo por um rápido momento. Há pessoas que preferem não ser tocadas, e é claro que isso deve ser respeitado, mas o amor é físico, ele toca tanto via física quanto mental/emocional , sentimental e espiritual. O amor necessita sobretudo de liberdade, pois em todos os sentidos ele é sempre livre, tanto no dar quanto no receber, necessitando da liberdade para crescer. Cada Ser crescendo no amor descobrirá seu próprio caminho, sua própria direção para o amor. Cada indivíduo pode julgar por si só que caminho tem significado para ele. Quando os caminhos se cruzam, existe a união; quando correm paralelos existe a paz, desde que cada caminho ame e honre o outro. O amor nunca dá direção, pois sabe que conduzir alguém para fora de seu caminho é oferecer-lhe o nosso, que nunca será verdadeiramente dele e certamente o enfraquecerá. Deve ser livre para seguir seu próprio caminho, da forma que escolher e com a intensidade que quiser. Deve ser livre para cometer seus próprios erros e, a partir deles, aprender o que quiser. Nosso amor está lá para dar-lhe apoio, a força para continuar sua procura de forma segura (se ainda busca), alegre, e oferecer-lhe o estímulo diário do qual necessitará. Qualquer auxílio dado é no sentido apenas de ajuda-lo a encontrar a pessoa que está procurando há tanto tempo. O amor é seu guia, não seu lider. E deste ponto de vista, cada ser é seu próprio guia. O amor nunca deve ter o objetivo de refletir quem o dá, pois se houver qualquer revelação da ajuda, então evita-se que o ser amado siga verdadeiramente o seu caminho e ele não está sendo verdadeiramente livre. Há o seu caminho e o amor o estimulará a segui-lo, mesmo que seu caminho não proponha o encontro mútuo. Manter alguém naquilo que acreditamos ser o caminho correto para ele(a) é levá-lo(a) para a escuridão. O amor escuta as suas próprias necessidades, no entanto, numa sociedade repleta de leis, regulamentos, guias, enfim, condicionamentos, para se ter a aceitação amorosa e social, muitas vezes, a persona está tão preocupada com o que os outros acreditam, dizem ou pensam, que pára de escutar o que ela própria acredita, pensa ou diz. Então a sociedade lhe diz onde e como deve morar, como deve se portar, no que deve crer, como deve se locomover e vestir, e, aos poucos, sem perceber, a persona estará tão identificada com o que a sociedade quer e espera dela que nem lembrará do que ela mesma acredita ou quer pra sí. Portanto, num determinado tempo, é normal que as cascas comecem a ir caindo e se desperte para o que verdadeiramente se sinta e queira, retornando a ser mais sí mesmo. Então, o amor escutará suas próprias necessidades e apreciará sua própria individualidade, orientando a persona neste processo de retorno à inocência. Cada um ao seu próprio modo e tempo.