quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sobre Ser, a limitação da persona e a sutileza inerente à consciência - Parábola Hindu - Nárada

Um grande mestre, Nárada, dirigia-se ao paraíso. Ele costumava viajar entre o paraíso e a terra. Funcionava como uma espécie de mensageiro entre o outro mundo e este mundo; ele servia de ponte entre os dois.

Ele encontrou um velho sábio, muito velho, sentado sob uma árvore e repetindo seu mantra. Ele esteve repetindo esse mantra durante muitos anos, muitas vidas. Nárada perguntou a ele, “Você gostaria de perguntar alguma coisa? Você gostaria de pedir alguma?”

O velho abriu seus olhos e disse, “Apenas uma pergunta: quanto tempo mais tenho que esperar? Quanto tempo? Diga a ele que isso é demais. Por muitas vidas estive repetindo este mantra, por quanto tempo mais tenho que continuar a fazê-lo? Estou cansado disso. Estou cheio disso.”

Bem ao lado do velho sábio, debaixo de outra árvore, havia um jovem com uma ektara, um instrumento de uma só corda, tocando e dançando. Nárada perguntou a ele brincando, “Você também gostaria de perguntar quanto tempo ainda falta para sua iluminação acontecer?” Mas o jovem nem mesmo se incomodou em responder. Ele continuou a dançar. 

Nárada perguntou novamente, “Estou indo fazer um pedido à existência. Você não tem nada a dizer?” O jovem porém, apenas sorriu e continuou a dançar.

Quando Nárada voltou alguns dias depois, ele disse ao velho, “A mensagem divina é que você terá que esperar pelo menos mais três vidas.” O velho ficou tão furioso que jogou no chão seu rosário de orações. Ele estava prestes a bater em Nárada! E ele disse, “Isso é bobagem! Tenho esperado durante muito tempo e tenho sido absolutamente austero, tenho recitado os mantras, jejuado, cumprido todos os rituais. Já cumpri todos os requisitos. Três vidas! Isso não é justo!”

O jovem ainda estava dançando sob sua árvore, muito alegremente. Nárada ficou receoso, ainda assim foi até lá e perguntou a ele, “Embora você não tenha perguntado nada, de minha própria curiosidade eu indaguei. Quando você disse que esse velho homem teria que aguardar por mais três vidas, eu indaguei sobre o jovem que dançava ao seu lado, dançando e tocando a ektara. E ele disse: ’Este jovem terá que esperar tantas vidas quanto forem as folhas da árvore sob a qual ele está dançando.' "

E o jovem passou a dançar ainda mais rápido e ele disse, “Tantas folhas quanto houver nesta árvore? Então não está muito longe, assim eu já cheguei lá! Pense quantas árvores há na terra e compare! Portanto, isso está bem próximo. Obrigado, por ter perguntado.”

Ele continuou a dançar. E a história conta que o jovem se iluminou imediatamente, naquele mesmo instante.





O sábio e a ilusão (Parábola Hindu)

Era uma vez, um grande sábio chamado Nárada. Seu conhecimento da Unidade da vida
era perfeito. Ele conseguia agir sempre de maneira serena e amorosa. Fazia tudo
como um presente para Deus. E, quando chegavam à sua vida os resultados de suas
ações, ele os recebia com satisfação e agradecimento. Mesmo quando diferiam de
sua expectativa ou contradiziam o seu desejo, ele se comprazia com os
resultados, sabendo que eles obedeciam às Amorosas Leis Cósmicas. De fato, ele
considerava tudo que lhe acontecia como um amoroso presente dado pela
Fonte-de-Todo-Amor. Ele ouvia as pessoas falarem da dificuldade de escolher a
Verdade e de confiar no Amor, mas não conseguia imaginar tal situação, tão
natural era para ele agir com sabedoria.

Uma vez chegou na sua aldeia um respeitado yogui. Todos se reuniram para
escutá-lo falar sobre a Vida. E a curiosidade de Nárada foi de novo despertada
quando ouviu o yogui discursar sobre Maya, a Ilusão ou erro de compreensão que
faz com que seres cuja natureza é paz e plenitude possam se sentir ansiosos e
carentes, que faz com que seres perfeitos e divinos se considerem limitados e
insignificantes.

Nárada, não chegava a entender.

Para ele tudo era uma dança cósmica de Luz e Harmonia, não conseguia ficar cego
à Presença Divina e muito menos encontrar qualquer sinal da famosa Maya ou
Ilusão que enfeitiça os homens.

Nessa noite, como de costume, Nárada sentou-se em meditação para deliciar-se com
a contemplação do Amado Divino. E, como sempre, o Senhor do Cosmos sentou-se à
sua frente para deleitar-se com o néctar de devoção oferecido pelo seu devoto.
Depois de alguns momentos em amorosa comunhão, Nárada disse: "Amado Senhor, ouvi
falar muito da força de Tua Maya, e senti o desejo de conhecer o Jogo da
Ilusão". E acrescentou com total confiança na bondade divina: "Me concedes
isso?". E Deus assentiu sorrindo: "Claro, por que não?".
Passaram-se algumas horas em vibrante e luminoso silêncio findas as quais Deus,
com seu poder onipotente, materializou um cântaro e pediu a seu devoto: - "Estou
com sede, poderias trazer-me um pouco de água do rio?". Nárada levantou-se
graciosamente e feliz de poder servir o seu Amado, percorreu a curta distância
que o separava do rio. Chegando na margem, inclinou-se para encher o cântaro.
Ouviu então alguns passos e virando-se para um lado pode contemplar a forma mais
maravilhosa que jamais tivera visto. Trêmulo de emoção deixou o cântaro no chão
e aproximou-se daquela figura feminina de contornos inebriantes. "Que rosto!
Que olhos!" - murmurava fascinado. Percebeu então que o sol despontava no
horizonte e o céu explodia em tons dourados e azuis, e pensou "Isto só pode
significar o amanhecer de minha própria vida!". E, em poucos instantes,
aproximando-se da jovem, sua voz apaixonada descreveu poeticamente a intensidade
e profundidade de seus sentimentos, e a necessidade absoluta de desposar a bela
mulher. Os poucos segundos que se sucederam até a jovem dar a sua resposta,
pareceram intermináveis séculos para Nárada. Mas a angústia de seu peito foi
colimada de alegria quando ouviu da moça o mesmo desejo de compartilhar as suas
vidas.

Os anos se passaram.

Depois de muito esforço, conseguiram construir uma pequena casa na margem do
rio.

Algum tempo depois, felizes, comemoraram a primeira gravidez. O primogênito
trouxe-lhes grande alegria, assim como o segundo e o terceiro filho. Nárada os
educava com paciência, e observava com orgulho como eles iam se desenvolvendo.
Sua esposa continuava bela, mesmo depois da juventude ter ficado para trás. E,
apesar das divergências e freqüentes discussões, o amor entre eles continuava
firme e inspirador.

Um dia, quando as crianças já tinham chegado na adolescência, o céu ficou escuro
muito antes do entardecer.

Uma grande tormenta se aproximava.

Os três garotos brincavam no rio, numa balsa em cuja construção trabalharam por
mais de uma semana. A mãe aproximou-se do rio e pediu para eles saírem. Mas
eles, muito confiantes, disseram que estavam prontos para enfrentar qualquer
tempestade.
A mãe, aflita, correu até onde o seu marido trabalhava a terra e o trouxe
consigo até a margem do rio. O pai ordenou às crianças que voltassem, mas já era
tarde demais. A tormenta desatava seu furor levantando incontroláveis ondas que
sacudiam mortalmente a frágil balsa, a essa altura totalmente fora de controle.

Os pais desesperados lançaram-se ao resgate num pequeno barco que possuíam.
Lutaram bravamente, mas em vão. O rio engoliu a jangada e as crianças diante do
olhar impotente de Nárada e sua esposa. O casal gritava em tremenda aflição e o
clamor do seu pranto podia ouvir-se por sobre a voz ensurdecedora da tempestade.
Mas, quando a desgraça parecia ter alcançado o seu fim, eis que uma imensa onda
varre a superfície do barco arrastando consigo a mulher de Nárada. Ele se joga
ao rio tentando tirar dele seu último tesouro. Mas seu esforço sobre-humano é em
vão.

Com o coração partido, consegue manter-se flutuando enquanto a tormenta vai
amainando.

Finalmente, chega na margem do rio.

Com a alma rasgada e o rosto encharcado em lágrimas, Nárada levanta os braços ao
céu e, no limite do seu desespero, clama por Deus. Misturando raiva e
desolação grita pedindo forças e compaixão. Abrindo caminho entre as ondas
emocionais de sua tempestade interior, sua alma agita os céus exigindo
compreensão do sentido disso tudo, do sentido da vida.

Com o corpo agitado por seu choro, curvado pela dor em seu peito, Nárada não
percebe que alguém se aproxima.

Mas pode sentir que uma mão toca gentilmente em seu ombro, e pode ouvir quando
uma voz serena o chama pelo nome.

Levantando o rosto e enxugando as lágrimas vê alguém que conhece, mas não lembra
de onde.

E esse Alguém lhe diz com um sorriso maroto:

-"Nárada, que fazes? Por que gritas? Estou com sede, cadê a minha água?"

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Auto corrupções e rotinas automáticas nos vinculando à ignorância existencial

Avydia (ignorância existencial) pode ser observada por 4 focos através do discernimento: pela conexão com os 6 sentidos(sem a conexão pelos sentidos não estou no mundo), pela objetividade ou discernimento das bolhas de realidade (ilusões, como por exemplo, aquilo que nos condicionamos a fazer automaticamente), pela forma manipuladora do mundo em que vivemos ou seja, como a persona emerge com o mundo, o que faz a ligação do externo com o interno ( produzindo a lente pela qual olhamos o mundo) e através dos referenciais que adotamos para o despertar, observando as fontes de refúgio (plataforma de interação mental/emocional a qual recorremos quando algo foge do controle). Entre estas duas últimas faixas há algo relativo a como posiciono a mente focando um referencial, mas que pode também tornar a pessoa escrava, já que imersa no ego dos ensinamentos, abre mão da liberdade, ou seja, deixa de viver a essência da sabedoria em si para repetir uma rotina(fontes de refúgio mental). Piero Ferrucci autor italiano, refere-se a este estágio como "rotinização". A lição que abstraí disto foi absorver que os ensinamentos dos sábios devem ser assimilados em sua essência e vividos com liberdade por cada um, a partir de si próprio, ou seja, aplicando em sua vida cotidiana, a partir de si, sendo os ensinamentos uma referência que deve ser digerida e descartada com o tempo (enquanto rotina). As expressões vão ao longo da vida formando uma rede interconectada inconsciente que reflete a expansão da consciência num movimento de dentro pra fora. Em determinados ciclos podemos ter ficado tecendo ramos periféricos recorrentes desvinculados aparentemente do Ser, que parte do centro, já que a atenção se fixou na sobreposição de motivos periféricos anteriormente memorizados, dando a impressão de separação, mas logo percebemos que está tudo interconectado e que nunca houve separação. Embora esta teia possa influenciar o livre arbítrio ou o desenho de alguns ramos da vida. O movimento cada vez mais vindo de dentro e conectado ao presente promove o sentimento do desabrochar de uma flor e mesmo que em alguns ramos desconexos tenhamos sofrido emocionalmente, isto tende a se pulverizar no todo, cujo significado expressa a manifestação do que somos. Na observação desta rede interconectada expandimos a consciência para uma dimensão além da nossa lógica e que escapa ao controle, o que proporciona que nos demos conta de que nos aceitando como somos, com amor, também aceitaremos a vida como ela se expressa, em comunhão ao amor que desabrocha com a dádiva do viver.
É muito comum, por exemplo, desenvolvermos a habilidade de julgar o que estamos colhendo no momento presente, enquanto a vida apenas flui, e no momento em que automaticamente rotulamos algo como bom ou mau, passamos a dar importância e a criar o cenário desta circunstância, produzindo uma bolha de realidade subjetiva. Se, por outro lado, tivermos a possibilidade de viver o silêncio entre a nossa mente e as nossas ações, cotidianamente, teremos a oportunidade de tomar consciência deste vínculo, o que nos libera, afinal, de tudo aquilo que não podemos soltar, não somos seus donos, mas sim, seus escravos. "A dificuldade de encontrar a si mesma(o) pode se manifestar por meio de diferentes sintomas, como a compulsão e o consumismo. Essa (compulsão) é a principal razão que leva as pessoas a comprarem o que não precisam, com o dinheiro que ainda não possuem, para impressionar quem não conhecem e fingir ser o que não são. O auto engano é um grande opositor do autoconhecimento, e o maior aliado dele (do auto engano) é o medo da exclusão social" (Waldemar Magaldi Filho - Psicólogo). O florescimento na natureza implica que tenha havido a semeadura. Podemos deixar que tudo floresça ao seu tempo, e que as semeaduras sejam espontâneas, embora seja um atributo da mente, depois que conhecemos o processo da semeadura à colheita, podermos nos utilizar do planejamento para que a flor brote ao lado do caminho e não no caminho, onde possa ser pisoteada pelos transeuntes, por exemplo. Ocorre que planejando tudo podemos acabar tão identificados com este atributo que passamos a viver no futuro e não mais no presente, o que gera a ansiedade. -Você tem que fazer deste jeito !!! ...As pessoas não te dizem : - Faça do seu jeito!!! Então, este condicionamento de querer que sejamos perfeitos desde filhos, etc já vai se moldando, e sem perceber, passamos a também querer ser perfeitos em tudo, daí o estímulo de planejar tudo para que saia "perfeito". No entanto, a busca da perfeição gera ansiedade, que gera expectativa, que gera o medo de não atender a expectativa alheia, e quando percebemos estamos no labirinto novamente. Sentir medo de não atingir a expectativa alheia é o mesmo que sentir medo da rejeição dos outros, por não nos enquadrarmos em seus moldes. Então, no limite, nos auto corrompemos, por medo de não nos enquadrarmos no que os outros querem que sejamos, embora deixar-se ir do nosso jeito, nos proporciona transcender este medo.Trem que não para,Vício, Matrix, Labirinto, Sansara, Ilusão,Plano Manifesto ...a todo momento recebemos dicas de que algo existe e permite que a energia vital flua e manifeste aquilo que absorvemos. A ignorância existencial é apenas aquilo que impede que despertemos para expandir a consciência para o fato de que a energia vital entra no labirinto da existência e muitas vezes se perde em seus caminhos, e inúmeros refúgios, que velam com suas paredes as portas de saída e entrada. Uma vez neste ambiente, uma energia magnética dinâmica nos impele a agir em seu meio, enquanto no propõe tomar consciência de seu poder em nos manter presos. Em cada circunstância há a possibilidade de observarmos a ignorância existencial, e neste sentido, a própria vida se basta para nos conduzir ao momento em que vamos tomar consciência desta realidade. Na compulsão , no consumismo, na necessidade de se sentir inserido, enfim, em tudo que está a nossa volta observamos um contexto, uma energia dinâmica emergindo com o mundo a nos atrair para o seu meio, e aos poucos vamos expandindo a consciência para isto. A impermanência gerando a insatisfação e consequentemente o sofrimento, marcando. Por isso, enquanto não nos voltarmos para dentro, a impressão é de que o trem não vai parar e vamos sucumbir com ele. Teremos então de um lado a circunstância demandando energia, consequentemente a expansão da manifestação, e do outro, a possibilidade de desconectar desta identidade do mundo, possibilitando que a energia brote sem a interferência do meio externo. Só quando passarmos a gerir esta energia dinâmica do mundo a ponto de não irmos com ela, sendo capazes de produzir a energia a partir da nossa essência, sem interferência do meio externo é que neutralizaremos a relação de causa e efeito. Afinal, estaremos interagindo com a vida alheios ao labirinto, sem a necessidade de busca da energia no meio.A realidade considerada como sendo a capacidade de nos energizarmos e consequentemente nos motivarmos, pelo simples fato de estarmos respirando, se contrapõe à realidade de nos energizarmos, e portanto, nos motivarmos com algo advindo de uma circunstância externa (Promoção profissional, vitória do time que torcemos, compra de algo novo, status, ser aceito no meio social, vício, drama de controle, etc). E para que possamos nos energizar em função de uma circunstância externa é necessário que estejamos convictos de que ela é real, e representa a verdade para nós, mesmo que seja algo que nos energiza temporariamente, ou seja, com prazo de validade, quando focaremos nossa atenção em outra circunstância externa, caracterizando a impermanência que gera insatisfação, e consequentemente produz sofrimento. Assim, detectamos e tomamos consciência pouco a pouco da existência de " bolhas de realidade", na vida cotidiana, o que pode ser chamado de ilusão, já que quando nos energizamos de dentro para fora, independemos destas circunstâncias para nos mantermos motivados, e consequentemente, o sofrimento oriundo do meio perde a força dinâmica.   Cedo ou tarde vamos despertar para a consciência das portas de saída, para os aspectos desta energia magnética que nos impele a agir e vamos poder agir ou não, assim como, entrar e sair conscientemente. Portanto, o importante é tomar consciência do que é a ignorância existencial, sendo que atrairemos exatamente o que precisamos para achar a porta de saída e depois poderemos treinar entrar e sair até que este treino não seja mais necessário.  Sendo assim, conscientemente podemos desfrutar de tudo, e desfrutar da vida o que ela nos proporciona de mais belo: a possibilidade de viver plenamente. Aos poucos, a vida vai nos ensinando a dar menos atenção pro mundo la fora e a nos aceitarmos como somos, e quando a gente se aceita, assim natural, sem julgamentos, aceitamos também o outro como é, e sentimos com maior lucidez o sentimento de amor. Ao nos dedicarmos mais a nós mesmos, voltando a energia para partir de dentro e não apenas focando os interesses do mundo, sentimos amor próprio e este sentimento se expande para fora, re-significando a lente com que enxergamos o mundo. As resistências que moram dentro de nós, portanto, passam a fluir, com o não julgamento, tanto de si quanto do mundo, propiciando a expansão da consciência para novos horizontes.