Recentemente houve um retiro em Jundiaí-SP onde o Lama Padma Samten fez inicialmente um resumo bastante interessante, mas que nos fornece condições de observar a estrutura do ensinamento budista e compreender alguns pontos. Imersos num sistema de crenças, muitas vezes não vamos alcançar todo o significado de sua explanação, no entanto, é uma oportunidade de conhecer uma outra forma de compreensão da vida. A essência dos ensinamentos budistas é proporcionar que ultrapassemos Avidya que em português seria algo como a "ignorância existencial". A consciência deste sistema de crenças ao qual a vida nos submete acaba sendo alcançada quando há uma motivação para discernirmos o processo de transformação da mente, o que se inicia ainda com a palavra amiga, a troca de experiências entre as pessoas no sentido de serem mais felizes superando o sofrimento, embora tomemos conta mais a frente que esta superação plena implica em superarmos avidya. A essência do despertar, portanto, é quando após um período de troca de experiências e vivências a gente percebe e sente a dimensão que transcende a mente e o pensamento. E isto implica em observar e discernir 4 (quatro) nobres verdades, como dizia Buda. São elas portanto: 1-A vida é "Dukka" (eixo), ou seja, a vida está sendo vivenciada em desequilíbrio, o que gera o sofrimento; 2-E a causa disto é o "Trishna" (sede) que muitas vezes é traduzido como desejo, mas representa que a causa do sofrimento está na necessidade de buscar algo no futuro, o que impossibilita estar no momento presente, e isto sim nos conduz ao sofrimento; 3-Cessar o sofrimento é "Nibbana" (Nirvana), ou seja, é este liberar-se do apego à busca incessante no futuro, ...do não estar no agora (livre do "eu quero" ; do "eu não quero"; 4-O modo de liberar-se deste apego é através do treinamento, ou, pelo caminho óctuplo proposto pelo Buda: 1-A compreensão apropriada; 2-O pensamento apropriado; 3-A linguagem apropriada; 4-A ação apropriada; 5-Os meios de vida apropriados; 6-O esforço apropriado; 7-A vigilância apropriada; e 8-A concentração apropriada; Sendo a palavra "apropriado" sem conotação dual, ou que subentenda que há algo não apropriado. Em resumo: Linguagem, ação e pensamento que nos conduzam à libertar-nos do desequilíbrio ao qual tomamos consciência que vivemos. Desta forma, a essência do treinamento é a transcendência à Avidya, através de 4 dimensões ou faixas mentais que vão sendo conscientizadas: 1-A conexão da mente pelos sentidos (meio pelo qual damos conta da vida); 2-A mente que foca o objetivo, criando bolhas de realidade onde embarcamos e nos fixamos, acreditando estar buscando a felicidade; 3- Como co-emergimos como personas, com o mundo externo (as nossas lentes de leitura do que "apenas é" e que ligam o exterior ao nosso interior, pelas quais somos muitas vezes manipulados por interesses externos, por estarmos vivendo em bolhas de "realidade"); 4- E, como uma sub-divisão do 3, quando posicionamos a mente focando um referencial alimentado pelo meio externo (escritura, guru, etc) com a consequente necessidade de aprovação do outro (como fator de outro tipo de bolha de realidade para apego) . A visão cada vez mais crescente e consciente das bolhas de realidade, as quais nos submetemos no processo da mecânica mental, é a visão de Avidya (ignorância existencial). Manter-se acordado observando tudo, como observamos os pensamentos e sentimentos na meditação, é a essência da Libertação. E aos poucos emerge a sabedoria primordial onde nem se está preso em Avidya e nem se nega à ela. Ao dançar com Avidya, emerge uma intensão iluminada, uma motivação para sentir-se feliz ao tornar Avidya perceptível também ao próximo, sem ficar preso a ela, como se estivéssemos no labirinto com uma corda ligada à saída. Emerge também a vacuidade, um espaço anterior à Avidya. Observar a aparência da sabedoria primordial, da intensão iluminada e a vacuidade é observar a Mandala. A essência da realização é se manter na mandala. Enquanto que a essência da iluminação do ponto de vista budista é olhar tudo e reconhecer tudo como é , ...reconhecer tudo como surge. Este é o olhar puro!
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