Ao contrário do socialismo, cuja história se identifica basicamente com o pensamento de Marx, o liberalismo é um movimento de idéias que passa por diversos autores, entre os quais avultam Locke, Montesquieu, Kant, Adam Smith, Humboldt, Benjamim Constant, John Stuart Mill e Tocqueville. Estes autores, se têm afinidades, apresentam, por outro lado, diferenças muito apreciáveis. Historicamente, se pode dizer que a formulação do Estado Liberal, assinalada pelo movimento de idéias dos autores acima citados e que estão na base da doutrina liberal, obedece um duplo processo: a emancipação do poder político do poder religioso e a emancipação do poder econômico do poder político. Locke considera que o Estado existe para proteger os interesses do homem que, pelo seu próprio esforço, acumulou bens e propriedades, pois como disse ele, Deus fizera o mundo para "uso dos industriosos e racionais", e o Estado existe para protegê-los em sua exploração do mundo. Uma vez que a doutrina liberal repudia qualquer privilégio decorrente do nascimento e sustenta que o trabalho e o talento são instrumentos legítimos de ascensão social e de aquisição de riquezas, quaisquer indivíduo pobre, mas que trabalha e tenha talento, pode adquirir propriedade e riquezas.
A Igualdade, outro valor importante para a compreensão da doutrina liberal, não significa igualdade de condições materiais. Assim como os homens não são tidos como iguais em talentos e capacidades, também não podem ser iguais em riquezas.
" Não temos todos talento igual e a propriedade é, em geral, uma retribuição ao talento. A propriedade igual para todos é uma simples quimera; só poderia ser obtida por espoliação injusta. É impossível, em nosso feliz mundo, que os homens que vivem em sociedade não se dividam em duas classes: os ricos e os pobres." (Voltaire)
Assim, para a doutrina liberal, como os homens não são individualmente iguais, é impossível querer que sejam socialmente iguais. Pelo contrário, a igualdade social é nociva, pois provoca uma padronização, uma uniformização entre
os indivíduos, o que é um desrespeito à individualidade de cada um.
"O liberalismo vê na igualdade social o fruto da intervenção autoritária, cujo resultado final é, em seu ponto de vista, uma restrição à personalidade individual."
Voltaire
A verdadeira posição liberal exige "Igualdade perante a Lei", igualdade de direitos entre os homens, igualdade civil. Tal posição defende que todos Têm por lei, iguais direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à proteção das leis. Assim, diz Rousseau:
"(...) em lugar de destruir a igualdade natural, o pacto fundamental (o Estado) substitui, ao contrário, por uma igualdade moral e legítima, o que a natureza tinha podido por de desigualdade física entre os homens, para que podendo ser desiguais em força e em gênio, todos se tornassem iguais por convenção e de direito."
Daí não se pode concluir, entretanto, que o princípio da igualdade implique na eliminação das desigualdades sociais entre os homens, principalmente das diferenças de riqueza. Vejam o que Rousseau diz:
"(...) a respeito da igualdade, é preciso não entender por esta palavra que os graus do poder e de riquezas sejam absolutamente os mesmos; mas que, quanto ao poder, ele se encontra abaixo de toda violência, e nunca exerce senão em virtude da posição social e das leis; e, quanto à riqueza, que nenhum cidadão seja suficientemente opulento para poder comprar outro, e que nenhum seja tão pobre que seja coagido a vender-se (...)"
"Precisamente porque a força das coisas tende sempre a destruir a igualdade, é que a força da legislação deve sempre tender a mantê-la."
FONTE DE INFORMAÇÕES> Livro: Educação e Desenvolvimento Social no Brasil - Luiz Antonio Cunha; Texto/ artigo de Jornal do Professor Celso Lafer - O Liberalismo Hoje - "Liberalismo, Contratualismo e Pacto Social";
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