quarta-feira, 23 de abril de 2014

Quando voltaremos ao ninho?

"Era uma vez, um bando de águias que vivia numa bela cordilheira. 
Elas levavam uma existência descuidada e feliz, em meio a uma 
abundância de alimentos naturais nos bosques e regatos em volta. 
Passavam os dias em vôos altaneiros e em pacíficos prazeres. Lá 
embaixo na seca planície, porém, vivia um bando de inteligentes 
gralhas. Comerciantes por ocupação, as gralhas haviam investido 
dinheiro na plantação de milho de baixa qualidade. Olhando em torno 
à procura de fregueses potenciais, viram as águias revoluteando nas 
alturas. "Vamos vender-lhes milho", passou a ser o grito de guerra 
das gralhas, enquanto planejavam os argumentos. "Embrulhe o milho 
num belo pacote", sugeriu uma delas. "Vamos tornar as águias 
dependentes de nós", aconselhou outra. "Mais importante ainda", 
ponderou uma terceira, muito hábil na venda de milho, "vamos 
convencê-las de que o nosso milho não constitui simplesmente uma 
necessidade, mas é absolutamente indispensável. Vamos convencê-las 
de que, sem milho, elas se sentirão solitárias, abandonadas, 
perdidas. Um bom começo é fazê-las desenvolver um sentimento de 
culpa. Vamos fazê-las sentirem-se culpadas por ignorarem o nosso 
milho... e as teremos no papo!"
Bem, as águias eram bastante inteligentes, mas um tanto displicentes 
nos seus pensamentos. Embora se mostrassem inicialmente cautelosas, 
o milho parecia muito bom. Além disso, economizava-lhes o esforço de 
procurar comida.
Por isso mesmo, foram deixando aos poucos as alturas e descendo cada 
vez mais até o milharal. Naturalmente, quanto menos voavam, menos 
vontade sentiam de voar. Ficando com as asas enfraquecidas, foram 
obrigadas a pular desajeitadamente pelo chão. Disto resultaram 
colisões frequentes entre si, seguidas de numerosas brigas.
Havia, porém, uma águia que não apenas via longe, mas tinha também 
visão interior. Percebeu que havia algo de profundamente errado em 
toda essa história. Além disso, o milho simplesmente não tinha bom 
sabor.
No dia em que tentou convencer as amigas a voltarem às 
montanhas, as gralhas a ridicularizaram e a chamaram de criadora de 
casos. Acreditando nas gralhas, as águias passaram a evitar a antiga 
amiga.
E assim, quanto mais milho as gralhas vendiam, mais milho as águias 
engoliam. Algo, porém, ocorrera às outrora altaneiras rainhas das 
aves. Queixavam-se amargamente. Andavam nervosas e irritáveis. 
Sentiam-se solitárias, abandonadas, perdidas. Às vezes, lembravam-se 
do lar nas montanhas, mas não podiam recordar-se do caminho de 
volta. Simplesmente viviam mal-humoradas, esperando que surgisse 
algo de melhor, o que jamais acontecia.
Cansando-se de tudo isso, a águia perspicaz analisou-se 
cuidadosamente. Descobrindo as asas, experimentou-as. Funcionaram! E 
afastou-se voando, de volta às montanhas. Da alvorada ao anoitecer 
descrevia círculos sobre o seu mundo, descuidada e feliz.

De igual maneira, qualquer homem, cansado de tudo, pode levantar voo  
em direção à liberdade e felicidade naturais"

(Vernon Howard)

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