Lili era uma cachorrinha grã-fina que morava com Jaime e Judith, seus donos. Levava uma vida regalada: tinha duas tigelas limpinhas onde só ela comia, e para dormir possuía uma cesta com um cobertor de lã. Mas Lili preferia deitar na cama quente e macia de seus donos, em cima do acolchoado. Ficava lá cochilando, sempre que não tinha o que fazer. Todas as manhãs Lili apanhava o jornal e as cartas que chegavam e corria escada acima, para leva-los a Jaime e Judith. Lili estava certa de ter um lar muito feliz. Um dia ela ouviu dizer que ia chegar um bebê. Não sabia o que era isso. Seus amigos Joca e Fiel explicaram: "Um bebê é um ser humano, só que é bem menor e anda de quatro. Não deixarão você brincar com ele, senhorita Lili. Os bebês são muito delicados". Nesse momento apareceu por ali um cachorro muito atrevido que não usava coleira nem tinha dono. Era o Vira-Lata. Ele foi logo entrando na conversa: "Um bebê é um embrulho de encrencas! Os bebês arranham, puxam as nossas orelhas, e as vezes até o rabo!" Lili ia ficando cada vez mais espantada, enquanto o Vira-Lata continuava falando: "Espere até o bebê chegar, senhorita... Você não poderá mais coçar-se das pulgas, nem latir, nem sentar-se no tapete da sala! E o que é pior: quando o bebê entrar na casa, você sairá!" "Não lhe dê ouvidos, senhorita Lili. Todos sabem que o homem é o melhor amigo do cão", disse Fiel. Lili ficou muito preocupada com as palavras do Vira-Lata. Mas, quando chegou o bebê, ela viu que nada tinha a temer: era apenas um novo ser humano para amar e vigiar. Essa descoberta deixou-a feliz. Algum tempo depois chegou a tia Sara, para tomar conta do bebê enquanto Jaime e Judith iam viajar. Numa cesta tia Sara trouxe seus dois gatos siameses, que logo começaram a mexer em tudo. Subiram na mesa, puxaram a toalha, quebraram o aquário, derrubaram a gaiola do passarinho. Fizeram uma tremenda desordem na casa, sem que Lili pudesse evitar. Tia Sara acusou Lili pelos estragos que seus próprios gatos causaram. Como castigo, prendeu-a na casinha de cachorro do quintal e lhe pôs uma focinheira. Lili não estava acostumada a ser tratada dessa maneira e não gostou nada disso. Forçou a correia e conseguiu arrebenta-la. Fugiu correndo pelas ruas da cidade. Acabou encontrando Vira-Lata, que a levou ao Jardim Zoológico, dizendo: "Precisamos tirar isso, menina! Sei de um amigo que pode ajudar-nos. Vamos procura-lo". O castor roeu a correia e Lili ficou livre da focinheira. Que alívio! Vira-Lata comentou: "É por isso que não quero ter dono. Cada dia vou comer num lugar diferente, mas não pertenço a ninguém. Não uso a coleira dos homens!" Vira-Lata levou Lili para jantar no restaurante do Nino, depois foram dar um passeio no parque. Era a primeira vez que Lili passava a noite fora de casa. A Lua estava linda! De repente Lili lembrou-se de que precisava voltar, pois tinha que vigiar o bebê. No caminho, Vira-Lata convidou Lili para caçar galinhas. Entraram num galinheiro, cavando um túnel na terra, por baixo da cerca. As galinhas se assustaram e fizeram um barulhão! O dono da casa acordou, atirou com a espingarda e os dois fugiram em disparada. Mas Lili foi presa e levada para o canil da Prefeitura, onde encontrou cães vadios e sem dono. Lili voltou para casa triste e abatida. Joca e Fiel procuravam consola-la, quando chegou o Vira-Lata. Lili não queria saber de conversa com ele, pois estava magoada com o que acontecera. Nunca entrara antes num lugar tão horrível como o canil da Prefeitura - e tudo por culpa do Vira-Lata! E, ainda por cima, lá ficara sabendo que ele tinha muitas outras namoradas! Mas a discussão acabou de repente, quando os dois perceberam que havia fogo na casa. Lili e Vira-Lata entraram correndo e subiram para os quartos. Não havia tempo a perder. Lili acordou Jaime e Judith, que acabavam de chegar da viagem. Jaime desceu depressa e apagou o fogo. Felizmente, nada de grave aconteceu, graças ao aviso de Lili e de Vira-Lata. Jaime agradeceu a Vira-Lata e ofereceu-lhe uma coleira para que ficasse morando na casa. Vira-Lata olhou para o vasto mundo lá fora, depois olhou para Lili... e aceitou o convite. Ia perder sua liberdade, mas ganharia um lar muito feliz. Agora Vira-Lata ajudava a Lili a vigiar a casa e o bebê. Jaime e Judith confiavam neles. E antes do Natal Lili e Vira-Lata ganharam mais uma família: nasceram quatro cãezinhos gorduchos e espertos. O mais travesso de todos tinha a cara do pai.
Fonte desta versão: Coleção : Estorinhas de Walt Disney - livro 7 (Abril Cultural - Editor: Victor Civita)
Origem da estória: Em 1937, o artista de histórias da Walt Disney Productions, Joe Grant, teve uma ideia inspirada nas travessuras de sua cadela Springer spaniel inglesa chamada Lady e como ela foi "deixada de lado" após o nascimento de seu filho. Ele se aproximou de Walt Disney com esboços de desenhos de Lady; Disney aprovou os esboços e pediu a Grant para iniciar um desenvolvimento para uma história de um novo filme de animação do estúdio intitulado "Lady". No final da década de 1930 e início da década de 1940, Joe Grant e outros artistas trabalharam na história, adotando uma variedade de abordagens, mas a Disney não estava satisfeita com nenhuma delas, principalmente porque achava que Lady era muito doce e não havia ação suficiente.
Walt Disney leu o conto escrito por Ward Greene intitulado "Happy Dan, the Cynical Dog", publicado pela revista Cosmopolitan em 1945. Ele achava que a história de Grant seria melhorada se Lady se apaixonasse por um "cão cínico" como o da história de Greene e comprou seus direitos. O cão cínico teve vários nomes durante o desenvolvimento, incluindo Homer, Rags e Bozo, antes de "Tramp" ser escolhido. (Wikipédia)
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