domingo, 20 de junho de 2021

A roupa nova do Imperador

 Era uma vez um imperador que só se preocupava com roupas. Gastava a maior parte do seu tempo e do seu dinheiro comprando e usando roupas novas. O imperador queria uma roupa para cada hora do dia e estava sempre experimentando novos casacos, bordados a ouro e enfeitados com pedras preciosas. Um dia apareceram na cidade dois malandros, que se diziam os melhores tecelões do mundo e anunciavam as maravilhas que eram capazes de fazer. "Já fizemos roupas para o Imperador da China e para o Marajá de Capurcala", dizia um. "O mais fantástico é o tecido invisível para os tolos", dizia o outro. "Só pode vê-lo quem for inteligente e capaz para suas funções." As pessoas ouviam curiosas e interessadas. A notícia chegou ao palácio e o imperador mandou chamar os dois tecelões do pano invisível para os tolos. Os dois malandros confirmaram suas habilidades. O imperador encomendou uma roupa daquele pano para descobrir quais eram os funcionários inteligentes. "Podem armar os teares aqui mesmo no palácio. Mandarei levar para vocês tudo o que for necessário." Daí em diante, os dois malandros passavam o tempo fingindo que trabalhavam. Pediam fios de ouro e pedras preciosas, que escondiam para depois levar embora. O rei estava curioso para ver o tecido de sua roupa nova. Mas, embora achasse que era inteligente e muito capaz para reinar, tinha medo de não enxergá-lo. Por isso resolveu mandar o ministro em seu lugar. "Quero que você vá ver se o pano que os tecelões estão fazendo está ficando bonito. Vou usar essa roupa nova no grande desfile real", disse o rei ao ministro. O ministro ficou espantado de não ver nada no tear. No primeiro instante até duvidou que fosse um bom ministro. Mas logo fingiu que via e exclamou: "Que maravilha! Que cores e que padrões! Creio que o imperador também vai gostar muito!" O imperador resolveu ir no dia seguinte visitar os tecelões, pois, se o ministro vira o pano, ele também o veria. Levou consigo seu primo, o grão-duque. Os dois tecelões fizeram de conta que estendiam o pano para que o imperador o visse melhor. Ele não enxergava nada, mas disse que era uma beleza. O ministro e o grão-duque até se aproximaram do tear, para examinar mais de perto aquela maravilha. "Fico feliz em ver vocês dois tão encantados quanto eu com este tecido maravilhoso!", disse o imperador. A partir daquele dia os dois tecelões deram o pano por pronto e começaram a cortar e costurar a roupa nova do imperador. Faziam de conta que trabalhavam. Na véspera do cortejo passaram a noite inteira nesse fingimento, para que a roupa estivesse pronta de manhã. Quando o imperador veio vestir a roupa nova, os dois fingiam segurar o casaco e as calças nas mãos. "Pedimos a Vossa Majestade que nos permita vesti-lo", disseram os tecelões, tirando a roupa do imperador, que ficou só de cuecas e camiseta. Depois começaram a fazer gestos como se o estivessem vestindo. "Há uma preguinha aqui que precisa ser acertada!" "Nos ombros está caindo maravilhosamente!" "Deixe que eu fecho os botões", iam dizendo os dois.  gritou: O imperador, entusiasmado, foi olhar-se ao espelho. "Repare, Majestade, na queda maravilhosa do tecido! Observe a elegância do corte!", diziam os tecelões. O imperador, satisfeito, partiu para o cortejo. Quase nu, caminhava muito orgulhoso embaixo do pálio. Todos notavam que ele estava sem roupa. Mas ninguém queria passar por bobo ou incapaz para as funções que exercia. Por isso elogiavam o traje real. Até que um menino gritou: "Ele está sem roupa nenhuma!" Foi uma gargalhada geral. Então o próprio imperador percebeu que tinha sido logrado.

Fonte desta versão: Coleção Estorinhas de Walt Disney/ Editor: Victor Civita (realização: Abril Cultural)

Origem:O conto de Andersen foi inspirado numa história encontrada no Libro de los ejemplos (ou El Conde Lucanor, 1335), uma coleção medieval espanhola de 55 contos morais de várias fontes como Esopo e outros autores clássicos e contos persas, compilados por Juan Manuel, Príncipe de Villena (1282–1348). Andersen não conhecia o original em castelhano, mas leu a versão do conto em língua alemã intitulada "So ist der Lauf der Welt". No conto original, um rei recebe cavilosamente de tecelões um traje que seria invisível a todos menos àqueles que são filhos legítimos de seus pais presumidos. Já Andersen altera sua fonte para direcionar o foco da história para a vaidade cortesã e soberba intelectual (Wikipédia).



Nenhum comentário: