sexta-feira, 30 de agosto de 2013

As camadas de condicionamento

O que há em comum entre nós e o herói que nasce numa família humana comum, transcende as teias mentais do meio em que vive, despertando para o absoluto, após inúmeros desafios cotidianos, para onde se dilui, surgindo novamente transfigurado para permanecer vivendo a vida relativa, porém agora onisciente?
Na vivência, tudo o que chega através dos sentidos encontra um código gravado, que dá sentido aquela vibração
e a torna perceptível. Uma vibração sonora, encontra um código emocional e viaja pelo nosso sistema nervoso;
Num instante estaremos flutuando, levados pelo embalo da melodia; Como barcos na correnteza, os códigos gravados nos levarão rumo ao destino; 
A questão é que depois que este código é gravado em nosso sistema, desde a infância, até tomar consciência que focinho de porco não é tomada, demora...

A linguagem é o principal meio pelo qual é transferido conhecimento, atitudes, preconceitos, sentimentos e aqueles aspectos que formam a personalidade e a cultura individual. Se somos um conjunto de dimensões que juntas interagem com o plano em que atuamos, é bastante compreensível considerar que a construção e a gravação destes códigos em nosso sistema nervoso visa nos capacitar para interagir com este plano de vivência. No entanto, esta interação com o meio, com o tempo, causa uma identificação, que poderá ser percebida e gerenciada, afinal, tudo na sociedade em que vivemos nos leva à distração de nós mesmos, da nossa vida interior. Portanto, a tendência da sociedade moderna é que cada um viva "fora de si", o que gera alienação, ansiedade e todo tipo de sofrimento pessoal. Se equilibrarmos o tempo que estimulamos os músculos numa academia ou esporte, por exemplo, com o tempo que estimulamos as emoções e sentimentos, estaremos dando também importância para a nossa dimensão sutil, mas o estímulo não é no sentido de exteriorizá-las à vontade, para obter alívio (catarse), como se expressando nossa raiva ela acabasse por se esgotar, afinal, pesquisas recentes verificam que a expressão incontida dessas emoções negativas podem levar a uma piora no estado geral de saúde, podendo causar aumento do estresse e sintomas cardiovasculares indesejáveis (ataques cardíacos, pressão alta, etc). Isso porque toda ideia, toda emoção, embora sutil, constitui um impulso eletromagnético que "navega" pelos nossos neurônios, cujo gatilho está ligado aos códigos gravados em nosso sistema desde a infância. Se esses impulsos forem muito fortes ou contínuos produzirão substâncias neuroquímicas em excesso, que por sua vez poderão afetar o equilíbrio neuro-hormonal: a acetilcolina, a adrenalina, noradrenalina, serotonina, dopaminas, etc. E este é o motivo pelo qual adotar posturas de consciência sobre a nossa essência sutil, nos ajuda a evitar a instalação e a manutenção de um estado de saúde indesejável, seja lá por qual meio adotemos (meditação, esporte, ioga, etc), já que passamos a nos desidentificar com esta dimensão mais ligada à sociedade e seus labirintos, passando a observa-la de forma a reduzir o grau de envolvimento. Isso porque nas dimensões em que estamos vibrando simultaneamente (da sutil à mais densa), tudo funciona de maneira integrada, assim como em toda a natureza, sendo assim, o desequilíbrio emocional(ligado aos nossos códigos de referência) levará ao desequilíbrio energético, que por sua vez atua em nosso sistema nervoso, hormonal e imunológico, podendo produzir qualquer tipo de doença, desde distúrbios da pressão arterial, de sono, dores na coluna, gastrites, resfriados constantes, até a formação de tumores, doenças autoimunes e falta de defesa a viroses e infecções. 
Até mesmo a concepção do tempo instituído em nossa civilização, enquanto "unidade de medida" é uma convenção organizada para a implementação da vida em sociedade, e que reflete o alcance da consciência humana, dentro das dimensões conhecidas. Com o avanço da consciência humana para universos paralelos de existência, aos poucos a humanidade produzirá condições para romper com crenças limitantes sobre sua existência e poderá dar um salto quântico em sua concepção sobre a vida e a eternidade. Sendo assim, no ciclo da vida em que o exercício do discernimento for mais necessário, afim de discriminarmos o falso do verdadeiro, sinto ser importante observarmos os paradigmas aos quais fomos condicionados a acreditar em nossa cultura, pelos olhos da cultura de outros povos. É muito saudável, por exemplo, verificar o que há de comum nos mitos de cada cultura; Como determinado povo observa o mesmo aspecto da vida que observamos, através da lente de nossa cultura! Não que isto possa determinar o que é verdade ou o que é falso, porque já somos a verdade, mas para percebermos o que passamos a considerar como verdadeiro, sobrepondo o que verdadeiramente sentimos e somos. E ir aos poucos tirando os véus. É um trabalho subjetivo de cada um e que produz subsídios para um auto despertar, já que cada um é responsável por sua própria purificação. A impressão ilusória de separação, em função da identificação com o "eu aparente" que é o reflexo do sistema de códigos gravados em nossa memória mental e emocional desde a infância, dimensão em nós que fornece subsídios para que possamos interagir com o plano da manifestação, já que estamos encarnados; em algum momento da nossa vivência será motivo de reflexão para o discernimento e a re-significação de nossos paradigmas, já que com o tempo, ocorre o amadurecimento deste tema intuitivamente de forma natural (cada um ao seu tempo). Daí é que se origina a expressão "religare" utilizada por Lactâncio por volta do século III a IV d.C. para demonstrar a origem da palavra latina "religionem", que no mundo contemporâneo ocidental derivou para "religião". Ele contestou Cícero, e demonstrou que a raíz correta da palavra "religionem" seria "religare", afinal a função das religiões seria a de religar o homem à Deus (sua fonte). O artista, através de sua arte, intuitivamente sempre nos inspira, no entanto, ele se utiliza da lente da cultura, considerando os símbolos que estão no inconsciente coletivo de sua época, e dependendo da época, até para se manter vivo (rsrsrs). Na obra de Michelângelo sobre a criação de Adão metaforicamente pode-se enxergar ainda a sugestão subliminar de sua religação à fonte (Deus), segundo a concepção divina da época. Aliás uma ótima pergunta, afim de observarmos e discernirmos subjetivamente sobre a força da metáfora simbólica do arquétipo: -Quem seriam Adão e Eva (nas tradições que se utilizam do Gênesis), o primeiro homem e a primeira mulher ou uma metáfora ao "eu aparente" (sistema de códigos na memória aos quais nos identificamos e que causa a impressão ilusória de separação da fonte) no seu aspecto masculino e feminino, ou...razão e emoção ?
Para a vida cotidiana, a percepção subjetiva da origem e formação do "eu aparente", em função do condicionamento ao qual nos submetemos desde a infância, produz as condições para que compreendamos inicialmente através do intelecto, quem realmente somos. Posteriormente, com a ajuda de ferramentas que nos ajudam a cada vez mais colocar a energia no 'estar fluindo com o momento presente', como a meditação, a ioga,  o esporte, o desapego, o exercício diário com a própria vivência, etc, aos poucos, o Ser vai se energizando e propiciando que façamos outras descobertas como, por exemplo que, se não todo, mas uma grande parte do sofrimento humano do dia a dia tem a ver com a 'não aceitação' do momento presente como ele é ou se apresenta, pois identificados com o "eu aparente" criamos o "tempo psicológico", onde, em função dos códigos gravados na memória, julgamos o espaço de tempo presente como mau ou bom, com base em fatos passados ou projetando circunstâncias imaginárias no futuro, por onde o momento presente,... o Ser, escapa, como o piscar dos olhos. Sendo que o presente, sem nenhum tipo de julgamento mental é puro e apenas flui com a vida. Portanto, assumindo que não somos esta nuvem condicionada que paira sobre nossas cabeças vinculada ao 'eu aparente', podemos expandir a consciência para Ser (desde a pureza da fonte) e fluir com os momentos presentes que se sucedem. Tornando possível observar os problemas oriundos dos desafios cotidianos e resolve-los de forma prática, aceitando-os sem apego, e seguindo o fluxo natural do viver, o que evita patologias como o estresse e a depressão, que nada mais são do que a sobreposição do Ser pelo "eu aparente". O primeiro, em função da identificação com as metas e objetivos projetados para o futuro, e a segunda, em função da identificação com a frustração e a tristeza consequente, por viver com a impressão ilusória de que as coisas não ocorreram de acordo com as nossas expectativas, produzida pelo mesmo "eu aparente", enquanto o Ser, quem somos verdadeiramente, permanece adormecido sob as camadas de todo o condicionamento ocorrido.

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