O inconsciente é o espaço da consciência que está na sombra. Um espaço que como o consciente, é condicionado, porém guarda de forma oculta a memória das tradições, Resíduo racial e cultural, motivos secretos, anseios, prazeres, que traduzem como a persona tenderá a agir sob sua influência. Deste caldeirão inconsciente observam-se recorrências, ocorrendo como certas "verdades" da natureza, seja ela do ponto de vista macro ou microcósmico. Portanto, são "verdades" inconscientes que brotam na vida cotidiana e que receberam em tempos antigos a denominação de "Arquétipos". As civilizações da antiguidade, conhecedoras da natureza inconsciente, trabalharam bastante na educação de sua sociedade com estes arquétipos, criando símbolos que são embalagens destas 'verdades inconscientes' trafegando em estórias que visam traze-los à tona. E assim nasceram os Mitos. Sendo assim, ao lermos o Mito Grego que conta a estória do Rei Édipo, que assassinou o pai, Laio, e desposou a mãe, Jocasta, temos as chaves para acessar uma profunda verdade sobre a natureza humana, onde fica evidente que um adulto pode, mesmo tendo crescido fisicamente, ter-se mantido no desenvolvimento psicológico, infantil, e através desta lente, agir por muito tempo para realizar tão somente os próprios desejos infantis, sem tomar consciência disto. E disto decorre uma verdade fundamental sobre a natureza psicológica humana, a partir do nascimento, que nos mostra dentre o âmbito do reino animal o Ser humano como a espécie que fica mais tempo junto ao seio materno, já que após o nascimento ainda deverá ser preparado ao longo de um tempo para se inserir no mundo. Consequentemente a mãe se torna toda a sua capacidade de defesa contra uma infinidade de perigos, após o nascimento, ou seja, uma proteção que se estende além do período intra-uterino. Assim, a criança dependente e sua mãe formam ao longo deste tempo uma unidade dual, tanto no aspecto físico quanto psicológico. Ocorre que toda ausência prolongada da mãe provocará, portanto, tensão na criança gerando consequentes impulsos agressivos, enquanto, do lado da mãe, quando esta necessitar controlar a criança, gerará da mesma forma respostas agressivas. O primeiro objeto de hostilidade é também o primeiro objeto do seu amor! Surge, portanto, o seu primeiro ideal, que daí por diante se manterá como base inconsciente para imagens de paz, verdade, beleza, perfeição, benção, ou seja, a imagem desta unidade dual com a mãe. Por outro lado, a primeira intrusão radical de outra realidade, na beatitude desta reafirmação pós nascimento da excelência da paz do útero, será a do pai, no sentido de separá-la da mãe, que por este motivo assume primariamente o personagem de inimigo, puxando para si toda a carga de agressão originalmente vinculada à mãe ausente ou "má". No entanto, é comum permanecer com a mãe o desejo ligado à mãe "boa" ou presente, que nutre e protege. Esta distribuição de impulsos positivos e negativos, amor e ódio, Eros e Thanatos, constitui o fundamento para o estudado complexo de Édipo, ilustrado pelo respectivo Mito. Apontado pela psicanálise de Freud como a grande causa do fracasso do amadurecimento na fase adulta, no sentido de comportar-se de forma racional. Mas o Mito propõe que, ultrapassada de forma saudável a fase da unidade dual com a mãe, diferentemente de Édipo, a criança será bem sucedida, na proporção que não se tornará psiconeurótica, desvinculando os impulsos sexuais da respectiva mãe e esquecendo o ciúme com relação ao respectivo pai. Freud então afirma que toda desordem patológica da vida sexual, pode ser considerada uma inibição do desenvolvimento, como ilustrado pelo Mito.
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