O ser humano é uma identidade dual, derivando uma parte da identificação com o ego, e a outra, da identificação com o corpo e suas sensações, ou seja, podemos vivenciar o corpo diretamente através da sensação ou podemos ter uma imagem dele. Uma pessoa saudável tem essa consciência dual, mas isso não cria qualquer problema, porque a imagem do self e a experiência direta do self através do corpo coincidem. Portanto, este estado pressupõe uma auto-aceitação do indivíduo, ...uma aceitação e uma identificação com o corpo e suas sensações. A auto-aceitação é o que está faltando nos indivíduos narcisistas, que dissociaram seus corpos, de modo que a libido é investida no ego e não no corpo ou self. Sem auto-aceitação não há amor do self. Por isso, se a pessoa não pode amar a si mesma, não pode amar aos demais. Temos de possuir um senso do self para poder compartilhá-lo, e embora nasçamos com um self, podemos perder o seu senso se nos voltarmos contra ele, investindo nossas energias (a libido de Freud) no ego ou na imagem do self. Necessitamos de outra pessoa para compartilhar o self, mesmo q tenhamos perdido a sua noção, como no caso do narcisista, precisamos do outro para apoiar e aplaudir a imagem do nosso self, a nossa auto-imagem. Sem a aprovação e admiração de outros, o ego narcisista esvazia-se, pois não está ligado ao amor do self nem é por este alimentado. Assim, a admiração que o narcisista recebe apenas expande o seu ego, nada fazendo pelo seu self. No final ele rejeitará os admiradores, tal como rejeitou o verdadeiro self. De um lado, temos o ponto de vista do ego, que vê o corpo como um objeto a ser observado, estudado e controlado no interesse de um desempenho que esteja à altura da imagem da pessoa, e do outro, a via das sensações, pela qual somos impelidos tanto pelos nossos sentimentos como pela nossa vontade, se não estivermos negando nossos sentimentos. Portanto, somos levados às lágrimas, ou à cólera, ou a qualquer emoção, e o nosso senso de ser identifica-se com o sentimento, ...somos o que sentimos.
A nossa identidade dual assenta em nossa capacidade para formar uma imagem do self e em nossa percepção consciente do self corporal, o que numa pessoa saudável torna as duas identidades congruentes, ou seja, proporcionalmente complementares, o que permite à imagem representar a realidade do corpo, ou seja, representa o que a pessoa “realmente é”. Mas, quando a imagem não ajusta-se à realidade do corpo, como uma luva, ...quando há uma quebra nesta complementação entre imagem do self e self, ocorre então um distúrbio de personalidade cuja seriedade está proporcionalmente ligada ao grau de incongruência. Assim, uma pessoa pode deixar de levar em conta o que sente e dar atenção apenas às ações ligadas à manutenção de sua imagem, então temos os graus de narcisismos, e num extremo, a pessoa passa a ser considerada esquizofrênica, onde a imagem quase não tem relação alguma com a realidade. Então, as pessoas acabam deixando de ser o que elas sentem que são para investirem sua energia numa imagem, num personagem : Jesus Cristo , Buda, ou qualquer “iluminado da vez”. Como a tal imagem entra em conflito nítido com a realidade corporal (o que a pessoa sente), o resultado é a confusão, sendo que o esquizofrênico tenta desfazer essa confusão dissociando a realidade de seu corpo( do que sente) o que o leva a uma retirada da realidade em geral. Já o narcisista não perde a realidade geral pq evita a dissociação total de seu corpo, de forma a apenas ignorá-la, negando a sua identidade baseada em seu corpo através da concentração de sua atenção e energia exclusivamente na imagem . Evitando a chegada de sentimentos fortes à consciência, passa a considerar o seu corpo como um objeto submetido ao controle de sua vontade (os Johnny Bravo da vida), ainda orientados no tempo e espaço, já que permanecem conscientes do corpo, deste modo.
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